Ao acordar fiquei sabendo da morte de um grande amigo - JOÃO RABECHI - personagem querido de nossa terra - ITATIBA.
Logo veio à lembrança todos os ensinamentos que ele nos dera, acompanhado pela sonora gargalhada e, acima de tudo, carregado de bons sentimentos.
Pois é, Joãozinho Rabechi se foi da nossa visão, mas jamais sairá dos nossos corações.
Lembrei-me também de algumas palavas que escrevi há anos passados, falando dos Joãos que conheci e, ele não poderia ficar de fora.
Espero que compreendam a homenagem e, para aqueles que não tiveram o prazer de conhecê-lo, fica aqui uma lição que acompanha vida a dentro - aqueles jovens de outrora - e que ele, com maestria aspergia ao vento para que se espalhasse pela cidade. Com certeza é a essência de tudo: "O IMPORTANTE É O AMOR".
PS: tiro a cor característica dessa coluna em sinal de luto.
JOÃO’S
Quando era criança, ali pelos 4 ou 5 anos, todo o dia precisava – quase que por necessidade fisiológica - ir até a casa da Vó Tonica, ver a Inha e a Vó. O nono Berto já fazia tempo que tinha morrido. Moravam na mesma casa o Tio Joãozinho, a Nega, o Galvão e o Luiz Henrique, pequenininho ainda.
A casa da Vó Tonica ficava na Praça da Bandeira número 33, ao lado do Bar Capítólio. A Praça era linda.
As suas árvores todas cuidadas com extremo carinho por um homenzinho baixinho, de óculos e bigodinho, muito amigo de meu pai. Peregrino Sabatine Neto, ou simplesmente, Peregrino.
As suas roseiras floridas, o cheiro dos pés de manacá, a sombra invejável das figueiras das rodas, os caramanchões de primavera, o coreto, a banda, o João Maggi e, o João Corvo?
Isso ia pelos anos de 1967, minha irmã Ana Maria já havia se casado com o João Borella e já tinha tido o seu primeiro filho João Ricardo.
Outro dia, trinta e poucos anos depois, é que parei para pensar como na minha infância e, na minha vida, muitos “Joãos” fizeram-se presentes. E, dentre todos que recordei, fui enumerando um a um:
João Batista de Oliveira – ou simplesmente João corvo. Desde criança convivi com a figura pitoresca e gentil de João corvo. Pude dedicar-lhe horas boas de amizade e bons papos, versados sobre os seus feitos – mistura de saudade e honra, suor e dor – mas desprovidos de rancor. João ensinou muito com sua vida, apenas não me mostrou como voar por sobre as casas da Praça da Bandeira – segredo seu – só seu. Não sei se levou lembrança minha. Deixou enorme saudade.
João Luppi, parente da mãe e homem gentil. Sua fama de trabalhador superou sua morte de há muito tempo.
João Maggi – o eterno maestro da Banda – quando a banda se apresentava na praça – no coreto – naquelas sempre lindas manhãs da infância, eu, como um corisco, subia correndo as escadas do coreto e ali ficava, estático, inerte, esperando que o João Maggi me passasse aquele pequenino pedacinho de madeira que ela carregava nas mãos, para que eu pudesse, imaginem só, daquele tamanho, reger a banda. Muitas e muitas vezes, de terninho de linho creme e gravatinha, era a sensação das manhãs de domingo, regendo aquele pedacinho de música que parecia uma eternidade e que enchia aquele peito com uma coisa que eu não podia entender. Agora sei que é, além de amor, todos os sentimentos puros que uma criança pode sentir sem saber o que é ou como se chama.
Obrigado seu João. O senhor sabe agora – pois está nos céus - o bem que me fez, dividindo comigo uma missão tão nobre e importante. Não me tornei maestro - Quem sabe seja uma missão importante demais para a minha pequenez. Não sou um músico da Santa Cecília – quem sabe seja eu privilegiado e possa sentar e ouvir todos os sons e acordes como ouvia na minha infância e possa tocar, juntando-me a todos, as palmas merecidas e precisas. Não sou muito mas, com certeza, o pouco que sou devo a pessoas como ele que me ensinaram a dividir aquilo que se tem de mais sublime, de importante e mostrar que ele não seria feliz se regesse um punhado de instrumentos, jogados nos bancos e sem sons – precisava, de outras pessoas, tão boas quanto ele para continuar o caminho, com muito orgulho, dedicação e amor. Hoje vejo no filho do Zé Franco – o netinho do Lázaro Franco – a minha estampa: espero que ele seja no futuro, tão feliz quanto eu.
João Pretti, homem probo e sempre prestes a ajudar nas causas importantes da cidade, Santa Casa, Asilo, e tantas outras. Sempre que o via, tinha a impressão de que estava diante de um homem limpo – a limpeza de corpo – a limpeza de alma.
João Evangelista, nosso barbeiro, depois do Zé Coletti, com sua barbearia na rua Campos Salles e as pescarias com o pai. Lembro-me do seu semblante e de sua impecável vestimenta.
João Vanni – meu professor de Faculdade, querido músico da Banda de Bragança Paulista.
João Borella meu segundo pai e querido cunhado, com o qual aprendi muita coisa da vida e da morte.
João Parodi, o tio João do Rogério – meu amigo – nosso tio também, por respeito. Quanto conhecimento, quanta dignidade, quanta sabedoria naqueles passos calmos e no olhar sereno!
João pé de pato – irmão do Zé – pé de pato também – da Candinha e da Ana, filhos da Leonil Pelizer e do Zé Macarrão, parentes, amigos. Continua tudo bem, maninho!
João Dias da Silva – o João da plaina – motorista do Centro de Saúde - local onde trabalhei - e com quem sempre tive um bom relacionamento. Depois que comecei a trabalhar no Museu Padre Lima e passei a pesquisar a fundo a história de minha terra, pude saber que o seu João havia sido vereador. Na sua humildade, nunca havia me contado.
São João Futebol Clube – local que admiro e freqüento desde criança. A sede ao lado do Bar do Lazinho Cordeiro, a construção do campo e vestiários, a piscina, a sede nova, a bocha e a malha, o ginásio de esportes e tantas outras coisas que vi.
Dedico meu carinho a todos meus amigos que lá, nas tardes e manhãs, transformam a alegria em acirradas partidas de bocha, “triunfo” e “tre sette”.
João Batista Alves Barbosa – João Vadô – pessoa que aprendi a admirar juntamente com sua esposa “Nide” e com toda família. O tempo que trabalhamos juntos no São João, trouxe-me enorme alegria e aumentou ainda mais minha admiração.
João Gordo – meu amigo sanjoanense e corintiano. Seu semblante alegre está sempre comigo e sua inconfundível gargalhada ecoa nos meus ouvidos todas as vezes que ouço a narração de um gol do Corinthians – olha que sou palmeirense.
João Ventura – vocês já repararam como o seu João se parecia com o saudoso Governador Mário Covas? Um dos fundadores e trabalhadores do alviverde, sempre nos domingos de manhã se fazia presente no São João, com contagiante alegria.
E, finalmente, João Rabechi – como poderia terminar essas minhas lembranças sem falar da grande figura itatibense que é Joãozinho Rabechi. Precisaria de algumas páginas para relatar as histórias – do famoso goleiro do Itatiba e de outros clubes da cidade, do seu querido peixe – Santos F. C, das festas, dos discursos, dos bate-papos, dos ensinamentos e da amizade. Tudo isso pode ser definido em uma única frase: “O importante é o amor!”
_ Quanto João. Mas será o Benedito?
_ Não. Benedito era meu pai!
Hoje completo:
Salve João Rabechi, mestre impoluto de tanta gente, irmão da irreverência e de jovens que souberam arrebanhar de ti momentos de extrema leveza e que contigo seguem na memória.
Sigas, João, em busca da eterna alegria, corras na busca da infinita paz, vá com Deus amigo.
Paul Degas
Paulo, muito obrigada por essa homenagem tão linda, ele realmente merece nosso carinho!!!
ResponderExcluirO vô João foi um homem maravilhoso e nos fez muito feliz sempre!
Eu e todos aqui em casa estamos muito agradecidos pelo seu gesto...obrigada pela atenção!
Um grande beijo!
Nara e família Rabechi.