Conheci o Osmar no Bar Capitólio. Vocês se lembram desse
espaço etílioco-cultural?
É já faz algum tempo.
O prédio onde funcionava o bar era de minha mãe, por
herança deixada de meu avô “Berto Hercules” que comprou duas casas de Benedito
da Silveira Franco Chrispim no início do século XX e as modificou.
Meus tios Joãozinho e Ditinho nasceram
em Itatiba, mas a Clementina – minha mãe nasceu em Itupeva, em 1919. Meu avô,
por motivos profissionais, mudou-se para aquela cidade e “Tito de Berto” lá
nasceu. “Tito de Berto” para não confundir com “Tito de Ida” apelido do primo
Norberto Carride, filho de Ida Hercules Carride, irmã de Umberto Hercules.
Aquele pequeno pedaço – do lado impar
da Praça da Bandeira – era da família.
E foi ali, num passado não muito
distante, que conheci Osmar.
Jovem e, dinâmico como sempre, junto
com o Álvaro Padovani alugaram o “Bar Capitólio” que antes havia passado pelas
mãos de vários proprietários. Em conversas de família ouvi dizer que o bar
pertenceu ao Tonico de Paula e ao Lulo Angelon e ao Joaquim Lupier, dentre
outros. Recordo-me do Zé Macarrão – José Sartoratto – e do Dinho Rabechi – Pedro
Rabechi, além do Romano – “Carioca” e dos irmãos Fedel.
Sabia de cor o nome dos garçons
daquela época, façanha dada pela constância de horas que passava ali, sempre no
bate-papo e nos comes e bebes que não deixavam a conta zerada.
Batia longos papos com o Osmar e, aos
poucos, fui conhecendo um pouco mais de sua vida, da família, do trabalho e do
seu dia-a-dia. Os papos eram sempre agradáveis, mesmo quando a “famosa” vinha
se apresentando, esquecida que ficava quando se fiava aos amigos.
Assim como eu, a lista de nomes parecia um rosário,
deixando muitas vezes a caderneta rubra de raiva.
Mas, as contas se acertavam e pontual ou mansamente se
pagavam, entre uns descontinhos e arremates feitos com a anuência dos dois –
Osmar e Álvaro – que algumas vezes me disseram sorrindo: “... perco uns
trocados, mas mantenho o cliente!”
E assim foi, por anos a fio. Calor ou
frio nós estávamos lá. Convivendo com os amigos.
Passado um tempo o bar foi vendido a
outros proprietários e nós, já vertendo em outros ares, não voltamos mais.
Daquele “Capitólio” muito restou.
Restaram as lembranças e as amizades que, apesar da
distância métrica, viviam nos corações.
Vou cruzar com o Osmar novamente, já na
Prefeitura – ambos – há anos atrás.
Não precisa falar que o “Capitólio” e o apelido “Paulinho”
foram os temas de muitas conversas e papos, com recordações alegres e vivências
regadas a bom humor.
Contou-me o amigo Fabião que o Osmar tomou um grande susto,
alguns dias após ter comprado o “Capitólio”. O amigo e mestre dos casamentos
“Urbano Bezana” tinha um jeito característico de soltar seus espirros: em alto
e bom som. Quando ouviu o barulho ou melhor o estrondo por três vezes, saiu
correndo achando que o motor da geladeira estava estourando. Não precisa dizer
que rimos juntos dessa história.
Mas a vida – sempre ela – sorrateira e silenciosa faz a sua
parte e cumpre o seu papel.
Osmar que por vezes nós – carinhosamente - chamávamos de
“frangueiro”, não se irritava, pois o apelido vinha do comércio de frangos e
não das falhas futebolísticas.
E, por falar em futebol, o Osmar vendo o pessoal da
“Benjamin” todo reunido e roncando papo que eram os tais na matéria da pelota,
oferece a oportunidade de jogarmos contra o time da Venda Nova, no campo do mesmo
nome, naquele bairro. O fuzuê que causou aquela boa provocação fez o bar ficar
mais movimento ainda. Dava até pra montar cinco times de tanta gente que queria
jogar.
Mas, como eram apenas dois quadros – termo usado
antigamente – formamos dois bons esquadrões. Bons sim. Não falavam mal de
ninguém.
E lá fomos nós. De ônibus circular, de carro e de carona o
time foi chegando e se aprontando.
Pelo vexame que passamos vou suprimir o nome dos demais
vinte e um jogadores. Me perdoem!
Tanto o retorno quanto a concentração foram marcadas no
“Capitólio”.
Na saída tinha até rojão. Na volta todos encontraram enormes
e acaloradas respostas para o fato. Bando de pernetas!
Quando fui ver o Osmar, nesta tarde e num instante de
despedida, pude ver nos rostos tristes a saudade.
Mas ao olhar em volta pude sentir a sua presença em tudo
aquilo que via.
Amigos, colegas de trabalho e de clube estavam lá no Itatiba
que tanto amou e que durante anos ajudou a transformar.
Transformou tijolos, cores e paisagens, ajudado por amigos
e colaboradores, seguindo os passos de quem o antecederam e deixando a estrada
preparada para os que virão depois.
Lutou bravamente a favor de tudo o que acreditava.
Saindo de lá passei pela portaria e perguntei ao porteiro se
poderia levar embora o cartaz do “Piracema” que convidava para o Botequim no
dia 04. Levei-o embora. Com sabiamente cantou Paulo César Batista de Faria: ... ninguém compreenderia um samba naquela
hora!